Há exatos dez anos era criado no Brasil o primeiro escritório que seguia os novos conceitos de inovação no ambiente de trabalho (WPI – Workplace Innovation): o da PHILIPS em Alphaville, cuja cultura na época, hierárquica e cartesiana, por recomendação da matriz holandesa, deu o primeiro passo para o que hoje é chamado de Flex Office ou ABW – Activity Based Worksplace.
Surgia assim os primeiros resultados de uma mudança na forma de trabalhar e fazer negócios, graças a evolução da tecnologia que ali começava de forma mais segura a permitir a mobilidade e, também, graças a inserção no mercado de trabalho de jovens, que vinham com uma maneira diferente de se relacionar com as empresas – mais de igual pra igual – e fez com que ambos tivessem que aprender essa nova regra de convivência. (essa, alias, é uma conversa longa que podemos tratar em outro momento)
Pois bem, a partir daí ficava para trás os primórdios dos conceitos de ambientes não territoriais como hoteling e free address ou just in time, surgidos no século passado e que, apesar de pregar uma certa mobilidade, ainda refletia no espaço a hierarquia das organizações e isso começava a deixar de ser tão importante para elas.
O trabalho passou a ser cada vez mais de base intelectual, cada vez mais baseado em ideias e mais colaborativo, criando um clima propício a inovação para as empresas que precisavam ser mais competitivas em um momento de grande volatilidade dos mercados e incertezas oriundas de um mundo em transformação.
Ao longo da última década, tantas outras empresas iniciaram um processo de mudança do seu ambiente físico pensando nisso e sabendo que sem ele seria mais difícil atrair e reter os talentos e, mais do que isso, viabilizar uma nova cultura em um ambiente mais produtivo.
No entanto, comecei a perceber que aquele conceito disruptivo e inovador, em linhas gerais tinha sido replicado abundantemente nas organizações, mas questões estruturais continuavam com o mesmo mindnset da lógica industrial, linear, baseada em controle e previsibilidade.
Mudou o ambiente de trabalho mas até quanto as empresas tinham genuinamente mudado? Até quanto as empresas confiavam na sua força de trabalho para mudar sua forma de gestão e permitir que pudessem trabalhar de qualquer lugar? Até quanto importava realmente o bem estar das pessoas, a crença de que são elas que fazem realmente a diferença se quando na hora de inovar preferia-se comprar soluções prontas do mercado do que investir na experimentação e acreditar que só através do erro se chega a algo de valor?
Como realmente mudar se sequer o compartilhamento das estações e o home office não eram soluções levadas em consideração pois, afinal de contas, “não na minha organização, custa caro e não daria certo”?
Continuando, ainda, por que não flexibilizar o horário se nossa atividade é intelectual e não pode mais ser medida pelo TEMPO e sim pela nossa capacidade inerente de transformar informação em conhecimento e conhecimento em inovação e isso requer ENERGIA, fonte esgotável que nos move e requer uma nova métrica para a nossa produção no trabalho.
Mobilidade no trabalho, há tempos é default! Cultura flexível, é decisão e depende de cada organização.
Afinal, pense bem, você acha mesmo que se as pessoas não estivessem preparadas para o Home Office o mundo teria migrado para o isolamento social, mantendo suas atividades produtivas de escritório somente porque a tecnologia de VPN, os arquivos em nuvem, os aplicativos para reuniões / interações visuais existem? Claro que não!
Vamos lá, como já falei acima, tudo isso já existia há 10 anos atras. A tecnologia que propiciou o teletrabalho foi criada na decada de 1980 – sim, no século passado – e, no entanto, o home office não prosperou por quê? Porque as pessoas não estavam preparadas para isso, muito menos as empresas.
Passado todo esse tempo, alguns cases de insucesso são lembrados como o clássico da Yahoo que, no entanto, quase nunca é mencionado que ali todo o contingente estava trabalhando em casa o tempo todo, reduzindo o contato social, a integração e a conexão com a cultura e valores das empresas.
Definitivamente não é disso que estamos tratando agora.
De uma hora para outra, para a nossa segurança e para nos proteger de um vírus de alto contagio, rapidamente as tecnologias tornaram-se disponíveis, os hardwares e softwares migraram para a casa das pessoas e o home office, que até então era privilégio de poucos, passou a ser uma realidade para milhões de trabalhadores ao redor do mundo.
O momento nos deixa perplexos. Sem dúvida! Expõe sentimentos distintos, situações extremas, deixa a flor da pele nossas emoções, transparece a nossa fragilidade, nos leva ao limite de nossos instintos.
Além disso, deprime a economia, milhões de trabalhadores são mandados embora, famílias inteiras ficam sem ter o que comer e coloca em xeque o nosso “bem-estar” social, nosso way of life.
Tudo está aí de perna pro ar e temos que pensar no ‘day after`, quando o vírus arrefecer, quando o mundo começar a voltar a uma certa normalidade. Pode ser daqui a três meses, um ano, não sabemos.
Mas vamos pensar que isso tudo vai passar, que o mundo voltará a girar, os mercados serão retomados e as empresas terão que se adequar a uma nova realidade. E essa realidade tem algumas vertentes que apontam para enormes possibilidades de transformação.
Fazer o ´lessons learned` é muito importante. Todo o momento de ruptura, que muda o curso da história, resulta em outro que é evolutivo, portanto, que lições foram aprendidas? o que funcionou ou o que precisa ser ajustado? como foi mantido o senso de pertencimento das pessoas mesmo distantes umas das outras? como construir juntos uma verdadeira comunidade cujo todo será, mais do que nunca, bem maior do que a soma das partes?
Daí, voltemos ao começo!
Levando todos esses fatores em consideração, podemos repensar os ambientes de trabalho sabendo que parte da jornada poderá ser, de forma efetiva, conduzida fora dos domínios da empresa e – aspectos jurídicos a parte – ser realizada a qualquer hora e em qualquer lugar.
Mais do que nunca devemos admitir a importância da dimensão social do escritório pois somos seres que nos alimentamos emocionalmente e mentalmente pelo convívio, pela troca e pela experiência conjunta. Por isso, por que não pensar em um escritório onde podemos compartilhar todos os seus espaços de acordo com as nossas atividades e pela razão de estarmos ali?
Menos estações de trabalho, ou melhor, menos estações tradicionais do tipo mesão e mais, muito mais ambientes colaborativos, de integração,de troca, aprendizado conjunto e de co-workings incluindo os virtuais também.
Pense comigo: em uma empresa de 1000 funcionários que fazem home office uma a duas vezes por semana, onde nunca teremos 100% deles na empresa, por que montar um escritório para 1.000 e não para 800 ou 700 funcionários, economizando no investimento e nos custos operacionais?
A economia com espaço, de 30%, 40% ou mais (aluguel, condomínio, IPTU, energia, limpeza, etc) é expressiva e a produtividade com os novos ambientes de trabalho e com a flexibilidade da jornada dos colaboradores levará o desempenho e resultado das empresas a patamares nunca vistos.
Por fim, imaginemos em uma cidade como São Paulo, o que isso significa para as pessoas transformar quatro horas de trânsito em algo de valor como se exercitar, deixar o filho na escola, estudar, etc. Isso sem falar nos impactos ambientais, como a redução de emissão de gazes de efeito estufa, menor geração de resíduos, menos enchentes, menor poluição sonora, para citar apenas alguns.
Mas o mais importante nisso tudo, é o sentimento de confiança mútuo que torna seu time unido e forte para enfrentar os desafios que estão porvir e criar uma relação mais saudável com o trabalho, mais amigável com a cidade, mais respeitosa com o meio ambiente, mais conectada com o mundo. Portanto, aquele futuro que parecia distante, de repente chegou. E poderá ser bem melhor do que nós todos imaginávamos.
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Estamos passando por um momento inusitado da vida da humanidade que, ao mesmo tempo que nos impõem restrições e limites na nossa liberdade de ir e vir, nos propõem reflexões profundas sobre todos os aspectos inerentes a nossa vida. Entre elas está o trabalho.
O Home Office, imposto pelas organizações como uma forma de proteger a nossa integridade física e de nossa família, reforçou uma situação que já era fato e que muitas empresas ainda resistiam em admitir: somos hoje profissionais de base intelectual que podemos trabalhar com mobilidade, pois temos tecnologia para isso. Diante disso, o escritório tal qual visto antes, precisará sofrer ajustes significativos para atender essa nova realidade, seja na fase de distanciamento social, seja no pós imunização da sociedade.
O curso Como Projetar o Ambiente de Trabalho na Era Coronavírus, portanto, visa capacitar os profissionais envolvidos nesta área para, a partir do entendimento do que poderá e deverá mudar, desenvolver um projeto que irá garantir a segurança e saúde das pessoas no trabalho, além de gerar bem-estar produtivo.
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