Sustentabilidade: Uma Nova Dimensão para as Empresas

Postado em Estruturas ,     Escrito por João Amato Neto    em público maio 27, 2015

A empresa sustentável precisa buscar o foco nas atividades de pesquisa, desenvolvimento e inovação, da política de recursos humanos, do trabalho produtivo, das estratégias de marketing e até do departamento financeiro, procurando o horizonte da sustentabilidade.

A corresponsabilidade do estado, empresas, terceiro setor e cidadãos acentua-se na análise das causas dos problemas ambientais. Na outra ponta, a da solução dos problemas, a cooperação tece a rede na qual coordenam-se as operações simultâneas e os esforços paralelos individuais e coletivos. A cooperação seria o meio de se fortalecer, compartilhando competências, infraestrutura, experiência de mercado, dividindo custos e somando esforços. Por isso, o mundo hoje não pode mais ser um conjunto de grandes fábricas e empreendimentos isolados, mas uma rede atuando em arranjos diversos, dos clusters regionais às organizações virtuais, com harmonias ou dissonâncias.

Das pequenas às grandes inovações, a busca da sustentabilidade impõe-se nos diversos planos: processos produtivos mais limpos e econômicos, do ponto de vista dos recursos naturais; produtos inovadores, em termos de novas funções e menor impacto ambiental; novas matérias- primas para produtos conhecidos; serviços mais intensos em conhecimento para a gestão ambiental; políticas internas de administração que envolvam educação, tecnologia e redução de gastos relacionados à matéria-prima, processos de produção e formas de organização do trabalho.

Portanto, a sustentabilidade não pode ser entendida como um departamento da corporação, nem como uma dimensão da empresa. O adjetivo sustentável apenas faz sentido quando vinculado à entidade como um todo. A empresa sustentável precisa buscar o foco nas atividades de pesquisa, desenvolvimento e inovação, da política de recursos humanos, do trabalho produtivo, das estratégias de marketing e mesmo do departamento financeiro, procurando o horizonte da sustentabilidade.

Do ponto de vista da gestão – em especial das políticas de recursos humanos – a empresa será convidada a uma grande transformação. Pressões das grandes empresas às pequenas e médias fornecedoras, imposições da matriz às filiais e subsidiárias, exigências de certificação de qualidade, imposição de normas técnicas ambientais, aperfeiçoamento do direito nacional e internacional, todo esse arcabouço gera uma entrada na questão dos direitos humanos das corporações. O respeito aos direitos políticos, civis, sociais, econômicos e culturais – individuais, coletivos ou difusos – não será mais uma obrigação do estado para com o cidadão ou dos cidadãos entre si, mas ficará vinculado também às organizações privadas.

Rede Produtiva

As questões que se impõem à administração das empresas são as mais diversas e afirmam a necessidade de monitoramento de toda a rede produtiva, incluindo fornecedores e consumidores, os trabalhadores e as comunidades. Temas como trabalho decente, infantil e em condições análogas à escravidão, liberdades do trabalhador, promoção e respeito às culturas, aos modos de vida e ao pensamento de comunidades, respeito ao direito ao meio ambiente saudável, todas essas questões, até então vistas como “problemas do governo”, pressionam as empresas da sociedade moderna.

Se, na década de 90, ganhou força a noção de “qualidade nas empresas”, muito mais forte neste início de milênio é que a sustentabilidade propõe uma questão para toda a empresa e para todas as empresas, do marketing à gestão, dos recursos humanos à estratégia.

Muito além de um apelo emocional, a sustentabilidade levanta um imperativo racional (ecológico) à sustentação das redes de cooperação produtiva que constituem a economia mundial, as economias nacionais, regionais e locais, uma questão prática para as empresas, parte do cotidiano. Se, segundo a história, o industrialista americano Henry Ford concebeu a linha de montagens do automóvel a partir de uma visita a uma linha de desmontagem de bois, semelhante (des)construção volta hoje em forma de inovação na gestão da sustentabilidade nas empresas: o conceito de logística reversa e as técnicas de produção mais limpa mostram a necessidade de se dominar não só a produção mas, também, a “desprodução”.

A empresa agora atua em uma rede que deve cobrir da pré-matéria-prima (o que fazer para preservar o espaço social e natural da onde será retirada), até a fase do pós-venda e do pós-consumo (como reaproveitar um produto após o uso). Da produção à desmontagem, a sustentabilidade busca uma inserção na dinâmica que rege o sistema econômico e a sociedade, a dinâmica da “destruição criativa”, como identificou o economista Joseph Schumpeter. Nasce, assim, o paradigma da produção sustentável.

sobre o autor
João Amato Neto
Professor titular e chefe do departamento de Engenharia de Produção da Poli-USP, coordenador do curso de capacitação em Sustentabilidade na Cadeia Produtiva e do curso de especialização em Administração Industrial na Fundação Vanzolini.